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    segunda-feira, 7 de outubro de 2013

    Evangélicos alquimistas

    O deserto é símbolo da luta vivida na jornada de fé para os cristãos. Segundo a Bíblia, ele foi uma espécie de filtro para israelitas que saíam do Egito e rumavam para a Terra Prometida.

    Naquela história, após as dificuldades do deserto, o povo adentrou num lugar feliz onde passou a morar.

    No imaginário dos crentes ficou, portanto, implícita a idéia de que o deserto é uma transição que, transposta, conduzirá igreja ou crente a um lugar espaçoso, com muito suprimento, vitórias e situações deliciosas para viver.

    Transportando a experiência daquele povo que virou nômade – peregrinos em busca de uma promessa – para a realidade contemporânea de um mundo capitalista ocidental, compreende-se vitória e terra prometida como se tratando de bens de consumo, casa própria, carro bom, perfume bacana… enfim, é assim que muitos cristãos enxergam sua experiência de fé nessa existência humana para este tempo.

    Eu não acredito que se resuma a isto a questão da fé! Também possuo minhas abstrações e analogias e costumo fazer minhas próprias metáforas utilizando experiências bíblicas, tentando aplicá-las aos dias atuais e em minha própria vida. Mas, não concordo e nunca concordei com a utilização da fé para transformar realidades adversas. Não segundo nossas paixões carnais, dentre as quais, reside a grana como detentora de primazia.

    Vejo a fé cristã como uma força, um poder sobrenatural que nos enche de esperança e fortalecimento para que sejamos capazes de passar pelas adversidades. A fé é a mantenedora da paz incompreensível, aquela que enche o interior da pessoa e a coloca em condições de suportar suas lutas neste mundo difícil.

    A fé não é instrumento de materialização de elementos espirituais, ou a transformação de substancias para se chegar a algo precioso e obter ganhos. Isto é coisa de alquimista, é magia!

    Jesus esteve em condições tentadoras e, em pelo menos uma delas, descrita na Bíblia, foi tentado por Satã a transformar pedras em pães. Ele tinha fome, estava fraco, passava por duras tentações, vinha de um longo deserto de privações e foi naquela circunstância que sentiu-se diante da possibilidade de se tornar um alquimista.

    Jesus não era um alquimista e, apesar de ter comprovado poder para tal prática, não era seu papel como Filho de Deus pegar uma situação difícil e transformá-la em um estalar de dedos, ou seja, um passe de mágica, tirando proveito dela.

    Há muitos crentes transformando pedras em pães, sob argumentação de fé sobrenatural. Contudo, fé não transforma pedras em pães, fé não transforma a realidade má em boas oportunidades de ganhos e lucros, que são matérias transitórias. A Fé fortalece o justo em sua jornada de dificuldades! Quem transforma pedras em pães é a maldade do mundo, que tenta induzir o crente a andar por um caminho de independência de Deus, tornando-se um mago, ao invés de permanecer na dura e árdua missão de simplesmente crer em Suas promessas.

    A fé cristã nos torna pacientes diante das batalhas, pois se baseia na espera pelo cumprimento da Palavra. O alquimista muda as coisas segundo sua própria vontade, utiliza seus poderes para transformar situações difíceis em oportunidades. No campo da fé evangélica, o alquimista é um oportunista, já o crente é alguém que espera pela oportunidade de Deus mudar sua história.

    Cada luta é um exercício que treina o crente, conduzindo a uma maior força; cada adversidade é uma experiência que conduz à maturidade. Viver por fé é ser exercitado em experiências e sofrimentos que erguem o cristão a um status de homem perfeito, ou seja, sensato, maduro.

    Não se deve confundir fé cristã com triunfo humano. Não!

    Muito do triunfo humano que se tem visto por aí é fruto do oportunismo daqueles que viram na proposta de Satã em meio aos seus desertos, a chance de transformar sua adversidade em lucro. É nessas ocasiões, infelizmente, que o sustento acaba se tornando no prato de lentilhas que mata a fome momentânea em troca da bênção eterna.

    Crente não é mágico, não transforma situações difíceis e oportunidades de bons negócios. Crente espera em Deus e não se move de sua moral cristológica para obter ganhos pessoais.
     

    Por Rafael Reparador

    Pastor, músico, compositor, poeta, jornalista, produtor musical, blogueiro, twitteiro, facebookeiro, observador da igreja dos últimos dias à serviço de Cristo. 
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